Por Jorge Aragão – Reaction News – 12 de maio de 2025

Vivemos uma era em que a inteligência artificial, outrora restrita à ficção científica, começa a moldar profundamente nossa rotina, trabalho e relações. Para o renomado cientista e executivo Kai-Fu Lee, a IA está prestes a transformar nossa sociedade de maneira radical — não apenas pela automação de tarefas, mas por algo ainda mais ambicioso: a libertação do ser humano do trabalho repetitivo e exaustivo. A promessa? Mais tempo para o lazer, para a criatividade e para aquilo que nos torna genuinamente humanos.
Essa visão nos leva de volta à Grécia Antiga. Em cidades como Atenas, a sociedade era organizada de modo que os cidadãos (vale lembrar, uma minoria privilegiada) se dedicavam à filosofia, às artes, aos esportes e à vida política. O trabalho braçal era delegado aos escravos e estrangeiros, permitindo que o tempo livre fosse canalizado para o florescimento da cultura ocidental como a conhecemos.
Mas será que a IA realmente nos levará de volta a esse “mundo de contemplação”? Estaríamos prestes a viver uma nova era de “ócio criativo”?
O Novo Dilema do Tempo Livre
O otimismo de Kai-Fu Lee aponta para um futuro em que profissões baseadas em empatia, criatividade e humanidade ganharão protagonismo. Artistas, cuidadores, professores e pensadores serão mais valorizados, enquanto os algoritmos assumirão funções técnicas, repetitivas ou previsíveis.
Porém, esse futuro não virá automaticamente. Na Grécia antiga, o ócio era privilégio de poucos, sustentado pela desigualdade. Se não repensarmos os fundamentos da nossa economia e da distribuição de oportunidades, a automação poderá seguir o mesmo caminho: libertar alguns, enquanto precariza muitos.
Tecnologia sem política é utopia
O tempo de qualidade que a IA pode nos proporcionar só será uma realidade se houver também transformação social. Precisamos de políticas públicas que promovam educação crítica, redistribuição de renda e acesso universal às inovações. Caso contrário, a tecnologia será apenas mais uma ferramenta de concentração de poder e exclusão digital.
Um futuro possível
Sim, talvez estejamos às portas de uma nova era de sabedoria, arte e contemplação. Mas, ao contrário dos gregos, temos a oportunidade — e o dever — de construir esse futuro de forma ética, inclusiva e justa. Que a inteligência artificial não apenas automatize tarefas, mas nos ajude a reumanizar o tempo.

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