Por Jorge Aragão – Reaction News – 15 de junho de 2025
A escalada do conflito entre Israel e Irã em junho de 2025, marcada por bombardeios a instalações militares iranianas e declarações explosivas do primeiro-ministro israelense sobre a iminente capacidade nuclear do Irã, não pode ser compreendida apenas como mais um capítulo da rivalidade histórica entre esses dois países. Embora a ênfase midiática esteja nas ameaças nucleares e nas alianças militares, um aspecto silencioso e cada vez mais relevante emerge do pano de fundo: os minerais críticos que sustentam as tecnologias de defesa do século XXI.
Em artigo publicado recentemente, o professor Nelio Fernando dos Reis, Ph.D., abordou com propriedade a importância geoestratégica dos Elementos de Terras Raras (ETRs) e sua presença em sistemas como drones, radares, mísseis e dispositivos de rastreamento. Segundo o autor, os conflitos modernos são “travados também pelo domínio dos minerais estratégicos que alimentam tecnologias sensíveis”. De fato, neodímio, disprósio, térbio, lantânio, cério e outros são essenciais para a indústria militar e eletrônica de ponta. Contudo, atribuir a esses minerais o protagonismo das guerras pode ser uma hipérbole analítica.

Um experiente Coronel de Infantaria e Engenheiro Militar reagiu ao artigo com uma crítica pontual: “Viajou na maior parte e acertou na que ainda somos apenas exportador de materiais em sua forma bruta… Viajou na douração da pílula das terras raras”. Essa visão pragmática não invalida a importância dos ETRs, mas aponta para a realidade concreta do Brasil, que possui uma das maiores reservas do mundo, mas segue preso à exportação de minério bruto sem capacidade de refino, aplicação ou desenvolvimento tecnológico nacional.
Enquanto a China domina 85% da capacidade mundial de refino de terras raras, o Brasil carece de estrutura, política e visão estratégica para transformar sua riqueza geológica em soberania tecnológica. Isso faz com que o discurso otimista sobre o potencial brasileiro, por mais desejável que seja, ainda pertença ao campo das possibilidades futuras.
Já o conflito entre Israel e Irã é motivado por forças muito mais imediatas e perigosas: o avanço do programa nuclear iraniano, o apoio do regime xiita a grupos terroristas como Hezbollah e Hamas, e a busca por hegemonia regional. A declaração do premiê israelense de que o Irã já detém material suficiente para produzir 18 bombas atômicas e pode iniciar ataques contra Israel, EUA e Europa, coloca a questão nuclear no centro da equação.
Minerais críticos não são, portanto, a causa imediata da guerra. Contudo, fazem parte de uma disputa mais ampla: a corrida global por soberania tecnológica e independência estratégica. Nesse sentido, é correto dizer que os ETRs são o “petróleo invisível” do século XXI, mas não a centelha que incendeia os conflitos armados entre potências rivais.
O artigo do Professor Nelio é valioso ao chamar atenção para esse componente muitas vezes ignorado. Mas cabe aos analistas equilibrar entusiasmo e realidade. O Brasil, por exemplo, não se tornará uma potência mineral apenas por suas jazidas; será necessário investir em refino, aplicação industrial e política internacional ativa.
Em tempos de multipolaridade e guerras híbridas, compreender os verdadeiros motores dos conflitos é fundamental para qualquer país que deseje preservar sua soberania e influência. Minerais críticos importam, sim, mas o que realmente acende a guerra ainda é o medo atômico e as rivalidades ideológicas que atravessam fronteiras e décadas.
Jorge Aragão é analista de segurança e diretor do Reaction News.
A Amazônia , o pulmão do mundo ,sempre será cobiçado por muitos países pela existência de vários minerais valiosos como o nióbio e outros mais. O que nos falta , é a governabilidade desse governo petista sem visão de futuro!!!
Muito obrigado pelo comentário, Lucchi! Suas palavras tocam num ponto crucial: a imensa riqueza natural da Amazônia e seu papel estratégico — não só ambiental, mas também tecnológico, diante da demanda crescente por minerais críticos como o nióbio.
Também compartilho da sua preocupação com a forma como esses recursos estão sendo geridos. Um território tão vital exige mais do que apenas discursos — exige uma visão de futuro responsável, que una soberania, desenvolvimento e compromisso real com o Brasil. Seguimos atentos e firmes em trazer esse tipo de reflexão ao debate nacional.